Médicos de Boavista FC, FC Porto, SL Benfica e Sporting CP, Professor Neca e Helton, partilharam as suas perspetivas sobre os desafios clínicos e financeiros
Qual o impacto das lesões nos atletas do Futebol Profissional? Foi sob esta premissa que o palco The Academy recebeu, na manhã do segundo dia do Thinking Football Summit 2024, quatro médicos de topo de clubes portugueses: Dr. Pedro Miguel Prata (Boavista FC), Dr. Nelson Puga (FC Porto), Luís Moreno (SL Benfica) e Dr. João Pedro Araújo (Sporting SC), que partilharam diferentes perspetivas sobre os desafios associados à sua atividade diária, num painel moderado por Miguel Gouveia de Brito, CEO da TrueClinic.
O diretor clínico dos axadrezados deu o pontapé de saída, afirmando que, com a industrialização do Futebol, “há uma sobrecarga na calendarização, algo que aumenta a carga e, logo, o risco de lesão do atleta”. Estavam lançadas as bases para o que se seguiu da discussão, com o Dr. Nélson Puga a destacar o elevado número de jogos que os atletas estão obrigados a realizar durante a presente temporada.
“Se formos o mais longe possível em todas as competições, faremos 72 jogos. Depois haverá o Mundial de Clubes e, se juntarmos os compromissos das seleções, com quatro paragens FIFA, dará mais de 80 jogos no total, o que é uma brutalidade. Temos de equilibrar os calendários, com novas regras que proíbam demasiados jogos seguidos, assim como a questão das 72 horas, porque os jogadores não estão recuperados passado esse tempo”, revelou.
Já o Dr. João Pedro Araújo, por sua vez, chamou a atenção para os custos que estão associados às lesões dos jogadores e que podem ser prejudiciais para a saúde financeira dos clubes. “O calendário, de facto, é muito apertado. A força muscular tem de ser recuperada, algo que não acontece depois de três dias. E há custos que estão associados, porque, se há mais carga, existe mais risco de lesão dos atletas, que depois não podem dar o seu contributo à equipa, que, por sua vez, pode não obter os resultados desejados e refletir-se no orçamento do clube”, frisou o médico do Sporting CP.
O reflexo da sobrecarga de jogos nos atletas mais jovens esteve também em debate no The Academy, com o Dr. Luís Moreno, do SL Benfica, a salientar os danos que podem limitar as respetivas carreiras no futuro: “Cada vez mais se aposta na formação. Não há comparação da carga à qual os miúdos são obrigados a resistir atualmente e isto tem um impacto brutal no corpo de cada um. Expô-los a tantos jogos e a tanta fadiga, poderá condicionar bastante o jogador que poderiam vir a ser.”
Manuel Gomes (Professor Neca), Vice-Presidente da ANTF, e Helton, Embaixador da Liga Portugal, também contribuíram para a discussão, oferecendo uma visão mais ampla sobre as implicações e estratégias para gerir e mitigar questões relacionadas com lesões no Futebol.
“O confessionário dos jogadores é o departamento médico, sendo que o atleta moderno de hoje tem uma consciência profissional muito maior, gerindo melhor a sua saúde física. Assim sendo, terá sempre de haver um equilíbrio entre médicos, treinadores e jogadores para rentabilizar a performance”, sugeriu Manuel Gomes, enquanto Helton contou alguns episódios da sua experiência pessoal como profissional, concordando com a revisão aos calendários e tendo como principal foco a recuperação total dos jogadores após cada jogo realizado.