Joaquim Evangelista alertou para a necessidade dos jogadores se manterem ativos, num painel que contou com as presenças dos Embaixadores da Liga Portugal Nuno Gomes e Tarantini, moderado por Susana Feitor
Joaquim Evangelista, Presidente do Sindicato dos Jogadores Portugueses, Nuno Gomes e Tarantini, Embaixadores da Liga Portugal, e Susana Feitor, antiga atleta olímpica e atual Presidente da Fundação do Desporto, juntaram-se à conversa, para debater o pós-carreira dos jogadores de Futebol.
A sessão arrancou com uma frase forte de Susana Feitor. “Há duas certezas na vida de qualquer atleta: uma é que um dia vão terminar a carreira e outra é que vão morrer.”
Abordando a transição de carreira dos futebolistas, “habituados a rotinas, competições e interações que se desenvolvem durante muitos anos e que, mais tarde ou mais cedo, terminam”, a antiga atleta olímpica defendeu que se trata de “uma fase crítica, na qual cerca de 40% de ex-atletas, segundos estudos da FIFA, sofrem de diversos problemas no âmbito da saúde mental, como depressões, ansiedade e até contemplações ou tentativas de suicídio”.
“Também cerca de 60% declaram falência nos primeiros cinco anos após o término da carreira desportiva, enquanto outros estudos indicam, também, que 78% dos atletas profissionais, dos mais diversos desportos, não possuem formação académica superior ou qualificação profissional fora do desporto. Ou até experiência profissional noutras áreas”, apontou, alertando para os problemas inerentes a toda esta realidade.
De seguida, foi a vez de Nuno Gomes intervir, afirmando que se trata de “um tema muito importante, o qual tem sido muito falado e que tem visto muitos avanços, havendo mais informação disponível e preparação por parte dos jogadores para a realidade”. O Embaixador da Liga Portugal revelou que jogar futebol “sempre foi um sonho de criança” e que “não pensava em terminar o sonho, pois queria sempre continuar a jogar”, mas que se trata de uma mudança “de um dia para o outro”, com um impacto brutal. “A cerca de três, quatro anos do final da carreira, foi quando comecei a pensar mais no que queria fazer após o final e que queria continuar no futebol, começando a preparar-me para esse contexto”, finalizou.
Tarantini, autor de dois livros sobre a matéria em causa e que estudou, com formação superior, durante a carreira, abordou uma temática “que lhe diz muito”. “Há cerca de 20 anos, senti que havia muito pouca informação sobre o tema. Atualmente, acredito que é um problema ultrapassado, pois já existe muita informação sobre o assunto e os jogadores já estão mentalizados para essa realidade, sabendo que não estão impunes às dificuldades que podem ter. Graças a um forte pilar familiar, os estudos sempre fizeram parte da minha vida. Fiz a licenciatura e já jogava na Liga Portugal SABSEG. No Rio Ave FC fiz o Mestrado e acabei a carreira a fazer o Doutoramento, já numa perspetiva de poder dar o exemplo e deixar uma marca no Futebol Português. Ser o único jogador em todo mundo e em atividade a acabar um Doutoramento foi a minha Bola de Ouro. Mostrei que é possível jogar e estudar ao mesmo tempo. É importante perceber que o final de carreira é um processo e não um momento”, rematou o ex-jogador e atual Embaixador da Liga Portugal.
Já Joaquim Evangelista, aponta aos dois exemplos distintos presentes no painel, ambos “com total mérito”: “Por um lado, o de Tarantini, que foi preparando essa transição ao longo de toda a vida, e por outro o de Nuno Gomes, que se começou a preparar mais perto do fim da carreira, alertando que são dois belos exemplos para todos os jogadores. Existem uma data de iniciativas preparadas para o auxílio aos atletas a passarem as mais diversas dificuldades, desde o ‘Programa Qualifica’, para as centenas que não concluíram o 12.º ano, que lhes permite fazer de forma online; várias parceiras com faculdades, para os que quiserem fazer um curso superior, com condições vantajosas e bolsas de estudo; protocolos com a Ordem dos Psicólogos, para ajudar jogadores que estejam com crises de ansiedade ou adição, com consultas pagas pelo próprio Sindicato; ou até estágios, dando a possibilidade a ex-jogadores desempregados. “É preciso abanar o jogador. Já chega de conforto”, desafiou o dirigente máximo do Sindicato de Jogadores.